quinta-feira, 31 de maio de 2012

Resenha do romance Rua Do Siriri de Amando Fontes


Capa Da Edição Contemplada para a elaboração desta resenha



INTRODUÇÃO

Lançado em 1937, Rua do Siriri é um romance de Amando Fontes que tem como tema a prostituição na Aracaju das primeiras décadas do século XX. Mariana, Esmeralda, Angelina e Tita, são algumas das mulheres que protagonizam essa história.


RESUMO

            A história do romance já se inaugura com um evento que há de interferir profundamente na vida das protagonistas: A ordem de mudança de todas “as mulheres de vida fácil” para a Rua do Siriri determinada pelo chefe de Policia do Estado. Em um primeiro momento, as primeiras protagonistas do romance (Esmeralda, Mariana, Angelina e Tita) ficam indignadas com esta ordem, mas estas logo se resignam a segui-la, tal como tantas outras mulheres, praticantes do mesmo oficio, o fazem. Instaladas em uma nova casa na rua que da titulo ao romance, as protagonistas experimentam algumas dificuldades iniciais quanto a distancia do novo lugar de trabalho, e também, pelo fato de muitos de seus contumazes clientes não saberem onde elas se encontram. Sem alternativa, elas decidem se mexer, indo às ruas em busca de clientes, com exceção de Mariana, que fica a cuidar da casa. Em certa parte do romance, nos é apresentada a história de Marina, sobre como que esta viera ingressar a vida de mulher-dama. Angelina decide se despedir de suas companheiras para ir se instalar no Rio com a ajuda de um cliente chamado Frazão. Tita apaixona-se por um rapaz chamado Horacio. Entretanto,a sucessão de um determinado evento acaba por arruinar por completo o relacionamento entre esses dois personagens. Uma nova personagem se insere na trama chamada Djanira, a qual ,se trata de uma adolescente que também vive da prostituição e que vai morar na casa das três meretrizes. Garota de gênio animado, desinibido e impulsivo, Djanira consegue ser bem sucedida em seu oficio, despertando o interesse de diversos clientes. Entretanto, a sua vida logo é severamente afetada pelo o surgimento de uma doença (que não é dito o seu nome, mas, muito possivelmente, se trata da sífilis), a qual, mesmo com todos os esforços de sua companheira, Djanira acaba por encontrar o seu fim no Curral do Bonfim, lugar onde ela passa a viver seus últimos momentos de vida. Outra personagem se insere na trama chamada Nenen, a qual vem assumir o lugar de Djanira na casa. Apesar de Nenen seguir com a vida de prostituta, essa demonstra ter um temperamento tão excessivamente retraído que o exercício de sua atividade se vê prejudicado. No entanto, ela acaba se afeiçoando por um de seus clientes chamado Berlamino da Fonseca, o qual, mesmo diante do gênio retraído da moça, sempre a trata com bons modos. Em um dado momento, Fonseca faz uma proposta para que Nenen venha morar em uma pequena casa. Nenen aceita a proposta e ela se despede de suas companheiras. Daí por diante, uma sucessão de personagens e eventos vão se inserindo na trama: Belisana, mulher-dama que dura pouquíssimo tempo na casa; S. Pedro, antiga companheira de trabalho delas que as visita; Pequena, a mulher-dama que, por não respeitar os códigos morais da atividade cultivados pelas suas companheiras, e ainda causar um escândalo em função dessa sua conduta, acaba sendo expulsa da casa; Rosa, que passa a vier na casa e a trabalhar no oficio por algum tempo ate a sua morte; a saída de Titã, que decide ir embora para a Bahia com um maquinista de temperamento impulsivo; o retorno de Nenen a casa e a sua segunda saída da mesma; Almerinda, a mulher-dama que, em outros tempos, desfrutara de grande prestigio, mas agora, já sem a mesma formosura no físico em função da velhice, vivia sendo rejeitada pelos clientes; Madelana ou Madá, a mulher-dama extremamente religiosa; a visita de Angelina a casa das protagonistas; Branca, a mulher-dama que, por vergonha do adultério cometido, decide ingressar na prostituição, e passa a viver na casa logo após a morte de Rosa;  O suicídio de Tita, do qual, Mariana e Esmeralda tomam conhecimento ao lerem um jornal; e, por fim, a morte de Mariana, vitimada por uma moléstia, e que em cujo enterro, apenas Madá pudera estar presente dentre as suas amigas.

ANALISE DA OBRA

Apesar de se tratar de um romance que discorre sobre a prostituição, Rua do Siriri não é uma obra onde se objetiva o excitamento do leitor com descrições de cenas sensuais (tão oportunas para uma produção desse tipo), mas sim, uma obra que busca contemplar a vida das mulheres ligadas a esse meio pela dimensão dramática. Esse tipo de abordagem oportuniza uma apreciação extremamente ampla e rica dessas mulheres cujos sentimentos, vontades, histórias e idéias são destacadas como as de qualquer outro personagem. E eis, mais uma vez, reforçada essa característica de Fontes, que é a sua preocupação em querer retratar a vida de mulheres sergipanas ligadas a segmentos marginalizados, tendo como enfoque, sempre aquelas que viveram na sociedade Aracajuana das primeiras décadas do século XX. Um ponto a se destacar desse romance é sobre o quanto que ele nos mostra como que o processo de urbanização, pelo o qual a cidade atravessava naquele momento, viera a influir na vida das mulheres-dama, sendo estas, obrigadas a irem morar na Rua do Siriri, deixando as suas casas situadas em ruas como a de Arauá e a de Estância, diante da imposição do chefe de policia do Estado. Em um dialogo de Marina com a sua tia Ernestina, podemos perceber a importância que o exercício da atividade nas proximidades da zona central da cidade representava quando esta diz que lá na “(...) Rua de Estância era bem melhor que esta. Mais no centro da cidade, mais alegre... (FONTES, 1968, P. 46). Por ai, podemos perceber o quanto que essa obra permite um entrecruzar com os estudos da disciplina de Sergipe II quando o Prof Antonio Lindvaldo Souza trata sobre “ A valorização da área central e o estabelecimento das dificuldades de acesso desta área aos homens pobres” (SOUZA, 2012, P. 150). A desapropriação das meretrizes mencionada no romance vem a ocorrer ainda em 1918. No entanto, é na década de 20 que essas medidas de expulsão de segmentos indesejáveis do centro da cidade ganham força, com a criação de novas leis e decretos de “integração das áreas suburbanas.
 Com respeito às criticas a obra, já em seu ano de lançamento, Rua do Siriri conquistou o interesse e o agrado de duas figuras celebres da literatura brasileira, como podemos verificar na edição que fora contemplada para o feitio dessa resenha: O Mario de Andrade, que era ligado ao movimento modernista; e o Monteiro Lobato, que era ligado a fase da literatura nacional intitulada de Pre-modernismo. Andrade classificou o romance como "(...) esplêndido. Não é só pelos pormenores literários do livro, principalmente isso de você humanizar um assunto que na mão de outro se tornava logo escabroso e coisa para esquentar sexos curiosos" (FONTES, 1968, P. 21). Já Lobato elogia o modo de escrever de Fontes presente na referida obra que "(...) da à sensação de sair naturalmente do escritor, instintivamente, fisiologicamente, como se possuísse lá dentro, ao lado dos órgãos comuns que respiram cheiram, vêem, fazem circular o sangue, etc., o órgão da escrita" (FONTES, 1968, P. 25). O fato desse romance ter conquistado o apreço de dois escritores consagrados e pertencentes a estilos literários diferentes parece se constituir em uma evidencia clara quanto a força das qualidades literárias presentes no mesmo. Todavia, nem todos os críticos literários avaliam Rua do Siriri tão positivamente. É o caso do critico literário Massaud Moisés, o qual, em sua obra, Historia da literatura Brasileira Vol III afirma que o romance, ao querer explorar o elemento da prostituição, tão presente em Os Corumbas (obra de Fontes anterior a Rua do Siriri), ela se torna “(...) Uma redundância perfeitamente desnecessária e comprometedora do seu poder inventivo e do seu provável intuito denunciatório” (MOISES, 2001, P. 150).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 
FONTES, Amando Rua do Siriri. Rio De Janeiro. Editora edições de ouro. 1968 Edição N/A

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SOUZA, Antônio Lindavaldo. “Parte do outro da modernização...”: Aracaju e os homens pobres nas primeiras décadas do século XX. São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD. 20120, PP. 148-157.














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